terça-feira, 29 de dezembro de 2009

tudo por não estarem mais distraídos.

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."


Caio Fernando Abreu


A.C.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Estou cansada

"Estou cansada de sonhar,
de desejar,
de te querer e não te ter,
de nunca saber se pensas ou não em mim,
se à noite adormeces com saudades no peito ou te deitas com outras mulheres.

Depois de todas as palavras e de todas as esperas,
fiquei sem armas
e sem forças.
Sobra-me apenas a certeza de que nada ficou por fazer
ou dizer,
que os sonhos nunca se perderam,
apenas se gastaram com a erosão do tempo
e do silêncio."

Margarida Rebelo Pinto

A.C.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

No meu baú

No meu baú de alegrias
guardo um seixinho do rio
(assim já não sente frio)
duas contas de um colar
que achei quando estava a brincar,
três fitas de seda amarela
(p'ra com elas me alindar
e o meu retrato a aguarela
alguém um dia pintar
)
Mas também guardei, faz tempo,
quatro ondas do oceano
cinco nuvens brancas, brancas,
seis farrapinhos de vento,
sete grãos de pensamento,
oito sonhos por sonhar,
nove sorrisos futuros...
e dez mapas de um tesouro...
que nunca hei-de encontrar.


A.C.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A monogamia está em crise

O meu avô, sempre com um brilhozinho característico nos olhos, costumava contar como conheceu a minha avó. Bastou uma troca de olhares. Não se conheciam, nunca tinham falado, nunca tinham estado próximos fisicamente, mas naquele momento em que os seus olhares se cruzaram pela primeira vez, o meu avô teve a certeza que aquela seria a sua futura esposa, mãe dos seus filhos, companheira de uma vida inteira. A minha avó, com aquela timidez que lhe era peculiar, contava que corria, todos os finais de tarde, para a linha do eléctrico, de onde o meu avô lhe atirava flores, sorrisos e cartas de amor. E, assim, permaneceram enamorados, durante meses, trocando sorrisos acanhados. Amavam-se sem nunca sequer se terem beijado.
Sonhado por todos as jovens, o momento de subir ao altar, era, naquele tempo, um dos principais pontos de realização pessoal, mais do que mera imposição social. Os valores de partilha e confiança, que se agregavam à ideia de casamento, auxiliavam na criação de uma relação duradoura, capaz de educar uma família basta. (Mas hipocrisias e preconceitos à parte, será que os ditos monogâmicos, no seu dia-a-dia, não costumavam sentir uns suorzinhos súbitos, acompanhados de imagens mentais pouco fiéis à sua relação de exclusividade?)
Hoje não se acredita no “até que a morte nos separe”. Ter uma relação de exclusividade e confiança perdeu-se na geração dos meus avós. Já não se acredita no casamento e o ideal de construir uma família parece “fora de moda”. Usam-se o cansaço e o excesso de trabalho como desculpas para não se investir numa relação a longo prazo. O “viveram felizes para sempre” limita-se a cliché de contos de fadas.
O tempo em que conversas de quatro horas voavam e em que dias separados pareciam semanas está a esgotar-se, por falta de tempo. Os jardins andam desertos de casais apaixonados, a união já não é assinalada por mãos entrelaçadas, já não se guardam as frases feitas dos papéis que enrolam os bombons. A palavra “nós” está a cair em desuso e o amor só existe no presente. Não é incomum que alguém não se recorde do número de parceiros que já teve, nem é invulgar que se mantenham várias relações em simultâneo. A monogamia está em crise.
Será só nas comédias românticas que as leis da física parecem precisar de reformulação, de modo a englobar os efeitos peculiares da paixão? Num mundo com milhões de pessoas a monogamia será pedir demais?

Eliana Macedo

sábado, 21 de novembro de 2009

(in)Completo

Quando partiu,

levava as mãos no bolso,

a cabeça erguida.

Não olhava para trás,

porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para

partir

incompleto,

ficado em meio para trás.

Não olhava,

pois,

e,

pois não ficava.

Completo,

partiu.

(Caio Fernando Abreu)


A.C.

sábado, 14 de novembro de 2009

EU TE AMO... NAO DIZ TUDO!

"Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,
Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,
Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,
É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!"

Arnaldo Jabor

Nossos dias melhores nunca virão?




[...]

Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, que nos davam a sensação de que o passado era precário e o futuro seria luminoso. Nada. Nunca estaremos no futuro. E, sem o sentido da passagem dos dias, da sucessibilidade de momentos, de começo e fim, ficamos também sem presente, vamos perdendo a noção de nosso desejo, que fica sem sossego, sem noite e sem dia. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção. Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.

[...]

Arnaldo Jabor

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

da Mia <3




...E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Antoine de Saint-Exupéry

sábado, 17 de outubro de 2009

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Às vezes é preciso mudar"





















Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar.

Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias,usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a dizer. E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordenadamente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade.

Às vezes é preciso partir antes do tempo, dizer aquilo que se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça,limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto,acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que o destino e as circunstâncias de encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim.

Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizémos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito, somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor.

Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último combóio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo.

Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar.

Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.

Margarida Rebelo Pinto


A.C.


P.S. desta vez é para alguem bastante especial, sabes bem Gosto de ti desde aqui até à lua. <3

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

isto de imaginar não tem segredos



Esta noite vamos à rua dos sonhos
Vamos ver como se pinta o céu de azul
Viajamos num balão e no fim do oceano
Há uma ilha que tem nuvens de algodão

Esta noite vamos ao mundo da lua
Faz de conta que somos um astronauta
Viajamos numa nave feita de papel e lata
E depois eu canto-te esta canção

Isto de imaginar não tem segredos
É mais alto quem mais longe imaginar
Ai se eu fosse uma bola de sabão
Uma sola de um sapato no teu mundo de cartão

A.C

sábado, 1 de agosto de 2009

11 anos, dia após dia, todos os dias.



construi sonhos e objectivos
e tento, dia após dia, alcança-los.
são bons, são maus,
são momentos,
contigo, sempre.

E.M.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

e eu e tu e...


...e caminhos e passeios e trajectos e lugares e cidades e metrópoles e aldeias e lagoas e rios e monstanhas e desertos e planiceies e segredos e vistas e sonhos e cantos e recantos e encantos e amores e cores e sabores e memórias e gentes e povos e caras e traços e terras e mares e céus e saudades e histórias e destinos e momentos e tradições e festas e aventuras e diferenças e semelhanças e descobertas e coca-cola e tu e eu...


A.C.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"é onde nós estamos, tu e eu"



"Mas desta vez ele estava a desenhar-me qualquer coisa na palma da mão, mostrando-me um circulo. «Escuta, Rita», disse. «Vês este circulo, isto é como a vida, onde temos de ir a muitos sítios conhecer diferentes pessoas. Mas dentro deste circulo, é onde nós estamos, tu e eu. E vês esta linha à volta dele? Ninguém pode quebrar esta linha para entrar connosco dentro do circulo porque ele está protegido. Isto sou eu, isto és tu, isto são os miúdos, todas as pessoas importantes estão dentro deste anel. Qualquer coisa que aconteça do lado de fora do circulo não tem especial importância, e nada pode penetrá-lo. Por isso não te preocupes, estás a salvo, tu és a minha rapariga, a minha mulher, a minha vida»"

Rita Marley & Bob Marley



Nós não tínhamos o circulo mas a bola de sabão, era apenas uma, mas dava para os dois.@


A.C.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

À procura de "Artur"

Como sou uma rapariga normal, hoje saí de casa e apeteceu-me comprar um peixe. Chamem-lhe capricho, mas de repente, achei que um ser vivo e cor de laranja na sala podia emprestar alguma expressividade à minha existência, distraindo-me com a sua silenciosa e incasável expressão corporal, enquanto aqui estou agarrada ao computador a programar sites de clientes do outro lado do mundo para Oeste com fornecedores do outro lado do mundo para Este.
Como são muitas horas de trabalho a contar com o desfuso horário entre Portugal, a Califórnia e a Índia, não posso ter um cão que é preciso levar a passear à rua três a quatro vezes ao dia, nem um gato, porque esses idiotas pensam sempre que são mais inteligentes do que nós, mas trabalhar para pagar as Whiscas é que está quieto ó preto, neste caso, está quieto ó gato.

Do que eu precisava era de um bicho pacato, que fosse barato e desse pouco trabalho. Com quem eu pudesse desabafar as minhas mágoas e me olhasse com complacência e solidariedade, sem no entanto precisar de pronunciar uma única palavra. Que me desse cor e movimento à vida e até, quem sabe, algum conforto, mas não deixasse a tampa da retrete para cima, pêlos da barba no lavatório e meias sujas enroladas como bichos de conta num momento de inspiração anárquica aos pés da cama. É isto que algumas raparigas normais sonham quando idealizam um modelo perfeito de namorado. Eu contento-me com um peixe e considero-me uma rapariga cheia de sorte porque, como já não tenho namorado, posso sair à rua para coisas tão prosaicas como comprar um peixe a quem chamei de Artur, porque era o nome do meu namorado, antes dele ter decidido ir viver para outro lado mundo, muito mais longe do que a índia ou a Califórnia, à procura dele próprio, que é o que fazem os homens quando não querem crescer nem assumir responsabilidades.
Se calhar também me deu para comprar o peixe, porque na Nova Zelândia, que é onde ele está, há imensos peixes de imensas cores e ao menos assim é como se tivesse o Artur por perto, a rir-se para mim e a encolher os ombros de vergonha quando eu reclamava os pêlos da barba e o tampo da retrete deixado descaradamente para cima. A verdade é que me armei em forte quando ele se foi embora, mas aqui fechada todos os dias a olhar para o outro Artur, só me apetece cruzar os oceanos como o pai do Nemo e ir à procura do único rapaz de quem gostei, porque afinal o que é a vida sem amor, senão uma existência vazia e adiada, estéril e sem sentido? Está bem, uma pessoa trabalha, ganha dinheiro, vai ao cinema e tem amigos, leva a avó a comer ducheses na pastelaria da esquina, bebe copos e dança até às sete da manhã, troca emílios e mensagens escritas no lindo visor do nosso melhor amigo que em vez de ladrar e ter orelhas compridas, canta excertos de peças clássicas e tem cara de extra-terrestre – isto é se um telemóvel pode ter cara de alguma coisa – faz ginástica, muda os móveis em casa, compra peças de roupa fantásticas nos saldos da Fashion Clinique, mas sem amor, sem esse fogo que arde sem se ver, sem essa ferida que dói e não se sente, que sabor tem a vida além do papel de jornal que se lê todas as manhãs para se fingir que até nos interessamos pelo que se passa no mundo?

Desatino é mesmo não sentir o poder do amor. Achem-me romântica, exagerada, adolescente tardia, infantil, o que quiserem, mas desde que o Artur se foi embora que a casa perdeu a cor, a tinta caiu das paredes e nem o outro Artur me consegue animar. Vou mas é aos leilões das companhias aéreas da net e cruzar os céus para resgatar o homem da minha vida, que, se a providência assim o quiser, não há de estar preso no aquário de um dentista como o Nemo, e pelo caminho mando à fava os clientes americanos da Califórnia com um Volto Já pespegado num emílio, até encontrar o meu príncipe encantado que deixava pêlos da barba no lavatório e as meias enroladas como bichos de conta ao pés da cama, mas que nenhum peixe pode substituir.

Margarida R. Pinto

A.C.

domingo, 5 de julho de 2009

anda daí

Anda daí, vem sentar-te na lua comigo. Imagina o trabalhão que tive, mas agarrei uma estrela só para ti. Somos amigos há tantos anos, muitos mais do que aqueles que já vivemos. Sei que só tenho dezoito anos e que ainda agora entrei para a faculdade, mas acho que nasci com uma alma antiga, porque olho para mundo e vejo mais longe do que muitos conseguem alcançar.
Por isso talvez a nossa amizade venha de outro tempo, um tempo sem tempo, uma existência eterna e paralela onde tu também tens dezoito anos e todas as noites podemos subir à lua e apanhar estrelas.
Agora elas andam fugidias, a tecnologia tornou-as mais rápidas e são muito difíceis de apanhar. Mas por ti, por tudo o que me ensinaste, por tudo o que já vivemos - ainda que em sonhos - por tudo o que aprendi a ser contigo, por ti, eu apanho as estrelas que for preciso.
Anda daí, vem sentar-te na lua. Nunca está frio cá em cima e instalaram umas escadas rolantes para não nos cansarmos na subida. A Lua forrou-se de almofadas brilhantes e distribui mantas e bebidas aos visitantes. Negociei um lugar cativo com o patrocinador oficial e assim podemos ir todas as noites, se quiseres, se puderes, se tiveres tempo e vontade, tu que andas sempre a correr contra o tempo, contra os comboios, contra quem está contra ti.
Não sei se também serei escritor um dia. Sonho com isso, mas faz-me impressão ver-te todos os dias fechada a lutar contra o silêncio, contra as palavras, contra o tempo. Falta-te a respiração do mar, uma existência serena, a capacidade de desligar. Falta-te tempo e energia. Mas nunca te hão de faltar os verdadeiros amigos, como eu.
Nem sempre conseguimos encontrar-nos no tempo presente, nem sempre tens tempo para mim, mas eu sei que posso contar contigo, que num momento de crise estarás ao meu lado, que voltarás sempre, porque se a vida é um eterno regresso a casa, a amizade é um amor eterno.
Por isso anda daí, vamos os dois um bocadinho à lua e quando voltarmos estarás mais bela e mais feliz e podes ter a certeza que o tempo em que estamos com aqueles que nos querem bem é sempre um tempo ganho, como quem acumula pontos de felicidade para o futuro. Mesmo que seja na lua, ou cá em baixo, entre os homens, tanto faz o tempo e o lugar, o que conta é o modo de ser e de amar.


Margarida Rebelo Pinto


A.C.

domingo, 28 de junho de 2009

sábado, 6 de junho de 2009

THE SECRET BABE



"A gift from the secret
The secret to you
Today is the beginning of my new life
I am starting over todey
All good things are coming to me
I am grateful to be alive
I see beauty all around me
I live with passion and purpose
I take time to laugh and Play every day
I am awake, energized and alive
I focus on all the good things in life
And give thanks for every one them
I am at peace and one with everything
I feel the love, the joy, and the abundance
I am free to myself
I am magnificence in human form
I am the perfection of life
I am so grateful
To be me"

A.C.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Já não sei andar só pelos caminhos.

Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Alberto Caeiro
E.M.

terça-feira, 26 de maio de 2009

<3

    "Mas porque a amo, e amo-a por isso
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência não pensar..."


A.C

quarta-feira, 13 de maio de 2009

é o riso, é a lágrima, não, nunca me esqueci de ti



Bato a porta devagar,
Olho só mais uma vez
Como é tão bonita esta avenida...
É o cais. Flor do cais:
Águas mansas e a nudez
Frágil como as asas de uma vida

É o riso, é a lágrima
A expressão incontrolada
Não podia ser de outra maneira
É a sorte, é a sina
Uma mão cheia de nada
E o mundo à cabeceira

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti
Não nunca me esqueci de ti

Tudo muda, tudo parte
Tudo tem o seu avesso.
Frágil a memória da paixão...
É a lua. Fim da tarde
É a brisa onde adormeço
Quente como a tua mão

Mas nunca
Me esqueci de ti
Não, nunca me esqueci de ti
Não, nunca me esqueci de ti
Eu nunca me esqueci de ti

A.C.

domingo, 26 de abril de 2009

Time is a killer.

Um dia, numa aula de história, escreveste no meu livro daquela tua forma sempre terna e com os olhos brilhantes de quem vive a sonhar: para o ano não me vais deixar, pois não? Conheces tão bem o meu jeito frio de quem não se prende e de quem parece não sentir saudade… Mas eu prometi: Nunca te vou deixar. Mesmo que o tempo nos afaste, a solidez da nossa amizade vai deixar-nos sobreviver a tudo. Tu sorriste de conforto. E eu esforcei-me a partir daí para que nunca quebrássemos laços, como nunca me esforcei por ninguém. Mas o tempo é escasso e consome-nos de uma forma que não nos permite dar tudo de nós a uma só coisa. Momentos ficam, datas esquecem-se. Sonhos ficam, amigos eternos também.


E.M.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

the sky is limited :b



Não te esqueças nunca dos nossos sonhos e projectos.

temos de retomar à preparação da viagem. (;

A.C

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Se queres um amigo cativa-o

"Ando à procura de amigos. Que significa “cativar”?- É uma coisa de que toda a gente se esqueceu, disse a raposa. Significa “criar laços”...- Criar laços?- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no Mundo. Serei única no Mundo para ti.(...)
A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.- Cativa-me, por favor, disse ela.- Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir amigos e conhecer outras coisas.- Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa. Os Homens já não têm tempo para tomar conhecimento de nada. Compram coisas feitas aos mercadores. Mas como não existem mercadores de amigos, os Homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.- Como é que hei-de fazer? disse o principezinho.- Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto...(...)- Vou dizer-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."

A.C.

sábado, 18 de abril de 2009

Há quem fale sem precisar de palavras.



E.M.

Adiamento



Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...

Fernando Pessoa

E.M.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Como um macaco gosta de bananas eu gosto de ti!




Ritinha M* diz:
aiiii
Ritinha M* diz:
como nos estamos
Ritinha M* diz:
isto faz sentido?
Um dia largamos tudo e fugimos juntos. diz:
o q?
Ritinha M* diz:
o q disses.te

E.M. (a curtir bues publicar cenas sem sentido no blog x)

A rita? uma FERA!

E.M.

domingo, 12 de abril de 2009

um dia vai ser o dia, contigo <3

Um dia pomos, e vamos fazer a nossa viagem




EUA, Europa, Ásia...podemos ir Austrália também? (;


I LOVE TO DANCE!


TODOS OS DIAS!



Eu escrevo... tu cantas... fazemos uma dupla? xD vai treinando "ohhh nooo..."




Girassois para a Eliana sff x)





Nós já temos o nosso dia, The Secret*






Prometoo mesmo que vamos as duas (: "Vou onde o vento me leva e não me sinto pensar"(FP)







:') Como no nosso filme?!
Um dia vai ser o dia, e no fim vou sentir-me realizada, por em cada dia ter sido contigo!



A.C.


sábado, 11 de abril de 2009

Ao Nuno


Ao Horatio (futuro Morgan) e seu Bichinho



À Pipoquinha e ao Xuxu



Aos momentos juntos



Às PUPONAS



À carta e ao encartado



A NÓS!



E.M.& A.C.