segunda-feira, 27 de julho de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

e eu e tu e...


...e caminhos e passeios e trajectos e lugares e cidades e metrópoles e aldeias e lagoas e rios e monstanhas e desertos e planiceies e segredos e vistas e sonhos e cantos e recantos e encantos e amores e cores e sabores e memórias e gentes e povos e caras e traços e terras e mares e céus e saudades e histórias e destinos e momentos e tradições e festas e aventuras e diferenças e semelhanças e descobertas e coca-cola e tu e eu...


A.C.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

"é onde nós estamos, tu e eu"



"Mas desta vez ele estava a desenhar-me qualquer coisa na palma da mão, mostrando-me um circulo. «Escuta, Rita», disse. «Vês este circulo, isto é como a vida, onde temos de ir a muitos sítios conhecer diferentes pessoas. Mas dentro deste circulo, é onde nós estamos, tu e eu. E vês esta linha à volta dele? Ninguém pode quebrar esta linha para entrar connosco dentro do circulo porque ele está protegido. Isto sou eu, isto és tu, isto são os miúdos, todas as pessoas importantes estão dentro deste anel. Qualquer coisa que aconteça do lado de fora do circulo não tem especial importância, e nada pode penetrá-lo. Por isso não te preocupes, estás a salvo, tu és a minha rapariga, a minha mulher, a minha vida»"

Rita Marley & Bob Marley



Nós não tínhamos o circulo mas a bola de sabão, era apenas uma, mas dava para os dois.@


A.C.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

À procura de "Artur"

Como sou uma rapariga normal, hoje saí de casa e apeteceu-me comprar um peixe. Chamem-lhe capricho, mas de repente, achei que um ser vivo e cor de laranja na sala podia emprestar alguma expressividade à minha existência, distraindo-me com a sua silenciosa e incasável expressão corporal, enquanto aqui estou agarrada ao computador a programar sites de clientes do outro lado do mundo para Oeste com fornecedores do outro lado do mundo para Este.
Como são muitas horas de trabalho a contar com o desfuso horário entre Portugal, a Califórnia e a Índia, não posso ter um cão que é preciso levar a passear à rua três a quatro vezes ao dia, nem um gato, porque esses idiotas pensam sempre que são mais inteligentes do que nós, mas trabalhar para pagar as Whiscas é que está quieto ó preto, neste caso, está quieto ó gato.

Do que eu precisava era de um bicho pacato, que fosse barato e desse pouco trabalho. Com quem eu pudesse desabafar as minhas mágoas e me olhasse com complacência e solidariedade, sem no entanto precisar de pronunciar uma única palavra. Que me desse cor e movimento à vida e até, quem sabe, algum conforto, mas não deixasse a tampa da retrete para cima, pêlos da barba no lavatório e meias sujas enroladas como bichos de conta num momento de inspiração anárquica aos pés da cama. É isto que algumas raparigas normais sonham quando idealizam um modelo perfeito de namorado. Eu contento-me com um peixe e considero-me uma rapariga cheia de sorte porque, como já não tenho namorado, posso sair à rua para coisas tão prosaicas como comprar um peixe a quem chamei de Artur, porque era o nome do meu namorado, antes dele ter decidido ir viver para outro lado mundo, muito mais longe do que a índia ou a Califórnia, à procura dele próprio, que é o que fazem os homens quando não querem crescer nem assumir responsabilidades.
Se calhar também me deu para comprar o peixe, porque na Nova Zelândia, que é onde ele está, há imensos peixes de imensas cores e ao menos assim é como se tivesse o Artur por perto, a rir-se para mim e a encolher os ombros de vergonha quando eu reclamava os pêlos da barba e o tampo da retrete deixado descaradamente para cima. A verdade é que me armei em forte quando ele se foi embora, mas aqui fechada todos os dias a olhar para o outro Artur, só me apetece cruzar os oceanos como o pai do Nemo e ir à procura do único rapaz de quem gostei, porque afinal o que é a vida sem amor, senão uma existência vazia e adiada, estéril e sem sentido? Está bem, uma pessoa trabalha, ganha dinheiro, vai ao cinema e tem amigos, leva a avó a comer ducheses na pastelaria da esquina, bebe copos e dança até às sete da manhã, troca emílios e mensagens escritas no lindo visor do nosso melhor amigo que em vez de ladrar e ter orelhas compridas, canta excertos de peças clássicas e tem cara de extra-terrestre – isto é se um telemóvel pode ter cara de alguma coisa – faz ginástica, muda os móveis em casa, compra peças de roupa fantásticas nos saldos da Fashion Clinique, mas sem amor, sem esse fogo que arde sem se ver, sem essa ferida que dói e não se sente, que sabor tem a vida além do papel de jornal que se lê todas as manhãs para se fingir que até nos interessamos pelo que se passa no mundo?

Desatino é mesmo não sentir o poder do amor. Achem-me romântica, exagerada, adolescente tardia, infantil, o que quiserem, mas desde que o Artur se foi embora que a casa perdeu a cor, a tinta caiu das paredes e nem o outro Artur me consegue animar. Vou mas é aos leilões das companhias aéreas da net e cruzar os céus para resgatar o homem da minha vida, que, se a providência assim o quiser, não há de estar preso no aquário de um dentista como o Nemo, e pelo caminho mando à fava os clientes americanos da Califórnia com um Volto Já pespegado num emílio, até encontrar o meu príncipe encantado que deixava pêlos da barba no lavatório e as meias enroladas como bichos de conta ao pés da cama, mas que nenhum peixe pode substituir.

Margarida R. Pinto

A.C.

domingo, 5 de julho de 2009

anda daí

Anda daí, vem sentar-te na lua comigo. Imagina o trabalhão que tive, mas agarrei uma estrela só para ti. Somos amigos há tantos anos, muitos mais do que aqueles que já vivemos. Sei que só tenho dezoito anos e que ainda agora entrei para a faculdade, mas acho que nasci com uma alma antiga, porque olho para mundo e vejo mais longe do que muitos conseguem alcançar.
Por isso talvez a nossa amizade venha de outro tempo, um tempo sem tempo, uma existência eterna e paralela onde tu também tens dezoito anos e todas as noites podemos subir à lua e apanhar estrelas.
Agora elas andam fugidias, a tecnologia tornou-as mais rápidas e são muito difíceis de apanhar. Mas por ti, por tudo o que me ensinaste, por tudo o que já vivemos - ainda que em sonhos - por tudo o que aprendi a ser contigo, por ti, eu apanho as estrelas que for preciso.
Anda daí, vem sentar-te na lua. Nunca está frio cá em cima e instalaram umas escadas rolantes para não nos cansarmos na subida. A Lua forrou-se de almofadas brilhantes e distribui mantas e bebidas aos visitantes. Negociei um lugar cativo com o patrocinador oficial e assim podemos ir todas as noites, se quiseres, se puderes, se tiveres tempo e vontade, tu que andas sempre a correr contra o tempo, contra os comboios, contra quem está contra ti.
Não sei se também serei escritor um dia. Sonho com isso, mas faz-me impressão ver-te todos os dias fechada a lutar contra o silêncio, contra as palavras, contra o tempo. Falta-te a respiração do mar, uma existência serena, a capacidade de desligar. Falta-te tempo e energia. Mas nunca te hão de faltar os verdadeiros amigos, como eu.
Nem sempre conseguimos encontrar-nos no tempo presente, nem sempre tens tempo para mim, mas eu sei que posso contar contigo, que num momento de crise estarás ao meu lado, que voltarás sempre, porque se a vida é um eterno regresso a casa, a amizade é um amor eterno.
Por isso anda daí, vamos os dois um bocadinho à lua e quando voltarmos estarás mais bela e mais feliz e podes ter a certeza que o tempo em que estamos com aqueles que nos querem bem é sempre um tempo ganho, como quem acumula pontos de felicidade para o futuro. Mesmo que seja na lua, ou cá em baixo, entre os homens, tanto faz o tempo e o lugar, o que conta é o modo de ser e de amar.


Margarida Rebelo Pinto


A.C.